Todas as lutas<br>não são de mais
Só a unidade e a luta podem fazer valer a razão dos trabalhadores
O roubo dos feriados, concretizado com as alterações ao Código do Trabalho aprovadas pelo Governo e os deputados do PSD e CDS, contando com um acordo subscrito pela CIP, a CCP e a UGT, levou a CGTP-IN e as suas estruturas a evocarem as origens do 1.º de Maio, em 1886, e a luta de então pela jornada de oito horas e pelo aumento dos salários. Ao fim de 127 anos, os patrões e o seu Governo pretendem impor mais tempo de trabalho e reduzir salários, quando os trabalhadores portugueses são dos que mais horas trabalham e menos recebem, na Europa.
Antecedida pela grande concentração nacional, em Belém, a 25 de Maio, a jornada de dia 30 foi também um momento de confluência de lutas que já estavam em curso e vão prosseguir, em direcção a um novo ponto alto comum, na greve geral de 27 de Junho.
Arménio Carlos, Secretário-geral da CGTP-IN, fez questão de comparecer junto do piquete de greve do Metropolitano de Lisboa, ao fim da noite de quarta-feira, 29. A elevada adesão, previsível pelo leque de organizações sindicais que convocaram a luta, parou a circulação durante todo o dia 30.
Foi ainda nessa madrugada ao Centro de Distribuição Postal de Lisboa dos CTT, em Cabo Ruivo, para o primeiro de três plenários, de duas horas em cada turno. Esteve de manhã na fábrica da Europac Embalagem, em Albarraque (Sintra), durante uma greve de 24 horas que abarcou também as unidades de Marrazes (Leiria) e Guilhabreu (Vila do Conde), por aumentos salariais para todos os trabalhadores.
O roubo dos quatro feriados e de três dias de férias representa sete dias de trabalho gratuito por ano, que pode originar o despedimento, no mínimo, de 98 mil trabalhadores, disse então Arménio Carlos, citado pela agência Lusa.
Também pela Lusa foi noticiado que as cantinas das 14 escolas do 1.º ciclo de Santo Tirso fecharam, dia 30, devido à greve dos trabalhadores da Nobrecer, empresa responsável pelo fornecimento das refeições. A luta deve-se a sucessivos incumprimentos salariais, como explicou um dirigente do Sindicato da Hotelaria do Norte. Francisco Figueiredo disse ainda que decorriam igualmente greves, contra o roubo na retribuição do trabalho em dias feriados, nas cantinas dos hospitais de Vila Real, Chaves, Famalicão, Viana do Castelo, Ponte de Lima e Prelada (Porto).
Dirigentes sindicais da Fectrans/CGTP-IN foram, nessa manhã, às sedes do BES e do Santander Totta, exigir a devolução dos milhões arrecadados à custa dos prejuízos causados às transportadoras públicas pelos contratos «swap».
Ainda em Lisboa, a Interjovem e o CESP realizaram de manhã uma acção de contacto com os jovens trabalhadores dos Armazéns do Chiado, apelando a que se sindicalizem e reforcem a luta por emprego com direitos, contra os horários selvagens e por melhores salários.
Desde dia 29, ocorreram vários episódios de protesto popular em locais ou iniciativas onde estiveram presentes membros do Governo.
Reformados exigem dignidade
Juntamente com trabalhadores de vários sectores, muitos activistas da Inter-Reformados integraram-se, no dia 30, em acções de protesto promovidas pela CGTP-IN por todo o País (no foto, um momento da passagem da manifestação junto à Casa da Música, no Porto).
«Por uma aposentação digna, contra o roubo das pensões», a Frente Comum de Sindicatos convocou para ontem, em Lisboa, o 1.º encontro nacional de aposentados da Administração Pública, cujos participantes iriam depois entregar uma resolução no Ministério das Finanças.
Entre os participantes, iriam ali estar activistas do Departamento de Aposentados da Fenprof. Este anunciou na segunda-feira um plano de intervenção, quer junto de tribunais, instâncias europeias, grupos parlamentares e outras entidades, quer com a mobilização para as iniciativas sindicais, ao lado dos trabalhadores no activo.
Algumas dezenas de reformados e pensionistas bancários concentraram-se, ao fim da manhã do dia 30 de Maio, junto ao Banco de Portugal, no Porto, em protesto contra a degradação dos seus rendimentos, uma vez que as reformas não são aumentadas há três anos e sofreram cortes nos subsídios de férias e de Natal (na CGD, no Banco de Portugal e no Santander Totta).